11.5.14

Missão impossível

Ainda mergulhada nas questões da maternidade, indico mais uma leitura, muito interessante,  de um artigo que a Ana Maria me enviou: "Mãe, um desafio impossível".

"Pense com calma sobre isso. É uma mulher comum, como sua amiga, irmã e colega de trabalho com seus medos e limitações. De repente, num processo de 9 meses de gestação, é alçada à condição de ser sobrenatural. Não é para qualquer um e, por isso, a maioria recebe feedbacks um pouco hesitantes dos filhos."

E ele descreve, com toda a propriedade, o esforço que fazemos, para sermos esses seres sobrenaturais...
Não deixe de ler o texto na íntegra: "Mãe, um desafio impossível".

Alguns momentos, com meus filhos...


3 comentários:

Ana disse...

Texto completo:

"Mãe: um desafio impossível
Frederico Mattos

Pense com calma sobre isso. É uma mulher comum, como sua amiga, irmã e colega de trabalho com seus medos e limitações. De repente, num processo de 9 meses de gestação, é alçada à condição de ser sobrenatural. Não é para qualquer um e, por isso, a maioria recebe feedbacks um pouco hesitantes dos filhos.

No dia das mães parece que essa hesitação desaparece e todas as mães são as melhores do mundo. Até entendo a licença poética. No cotidiano, porém, o que se vê é uma enxurrada de filhos queixosos de suas relações familiares. Os relatos são quase universais: “ela é louca”, “me persegue”, “nunca me deu o suficiente”, “me superprotegeu e estragou”.

A razão disso é simples: esse lugar social é superestimado e destinado a uma pessoa tão falível quanto qualquer outra. As mães precisam sustentar paradoxos dificílimos que chocariam a mente de qualquer um.

Quando surge a gravidez, não é só uma barriga que surge, mas uma correnteza de possibilidades e pressões internas. Como vivemos num mundo supercompetitivo, as crianças já nascem concorrendo, desde o berço, ao mercado predatório sem ao menos ter o direito de ser simplesmente razoável, normal.

A mãe se sente impelida a criar um super-humano para não ser chamada de insuficiente ou sentir-se fracassada. É como se dessem uma empresa em suas mãos de um dia para o outro e dissessem: “faça ela prosperar”.

E ela tenta, desafiando todo o conteúdo indigesto que trazia consigo e embarcando no conto de fadas que se cria em torno das mães. Ela finge para si mesma que já não sente nenhum vazio existencial, se certifica de que jamais poderá ter medo novamente e se convence de que jamais estará sozinha nos dias de velhice.

Ela tem ainda três tarefas delicadas:

Amar sem se apegar: nesse, em particular, é quase um desafio budista. Cuidar, amamentar, nutrir psicologicamente e, ao mesmo tempo, manter um desprendimento que será testado, inevitavelmente, por volta de vinte e poucos anos de tanta dedicação. Quando os filhos saem de casa, ela precisa reaver o seu posto antigo, sem aquele crachá de super-mulher. Sem poderes especiais, muitas mulheres surtam e causam problemas delicados na vida dos filhos, como boicotar inconscientemente o amadurecimento e partida de casa.

Prover sem controlar: o outro desafio é ter que direcionar o desenvolvimento físico, psicológico e social de uma pessoa indefesa, por muitos anos, sem criar uma pretensão de onisciência. É muito difícil. Provavelmente, você seria tentado a imaginar que conhece cada dimensão da personalidade dessa pessoa a ponto de saber o que é melhor para ela. O resultado disso costuma ser um tipo de convívio simbiótico e de monitoramento full-time. Não é a toa que a maior parte dos filhos sente um misto de gratidão, raiva e culpa.

Aprofundar sem desaparecer: talvez, a mais difícil das três tarefas seja mergulhar de cabeça numa experiência incrível sem se perder nela. Qualquer adolescente é capaz de investir horas e dias num jogo de videogame e se viciar, negligenciando sua vida real. Imagine se você se sentisse o player mais competente do mundo.

Muitas mulheres, principalmente aquelas que se sentiam vagando sem um rumo certo ou com uma qualidade de vida duvidosa, dariam fortunas se alguém dissesse exatamente o rumo que deveriam seguir, sem pestanejar. Um filho é sempre esse tipo de promessa para uma mulher desorientada, um acalento para qualquer sentimento ambíguo e inexplicável da existência humana.

Com essa proposta em mãos, a maioria se entrega a um eclipse pessoal e desaparece por completo do planeta Terra, alegando sem nenhum questionamento que tudo o que faz é um ato de amor. Como contestar alguém que se acredita de posse desse mandato divino?

...continua

Ana disse...

Quando escrevi o livro “Mães que amam demais”, o fiz como uma alerta, pois vi muitas mulheres completamente oprimidas por um papel que as enclausurava num lugar de alta beleza e pressão interna.

Lembro de uma mulher que tinha incríveis oscilações de humor a cada atitude do filho, como se dele dependesse sua sensação de bem-estar. Agora, imagine que esse filho, por outro lado, se sentia muito frustrado e contido a cada movimento que intencionava em fazer, para não magoar a mãe. Essa asfixia bilateral entre mãe e filho se revelava tóxica, mas ela sempre tinha um álibi: “sou mãe, quem é entende, né?”.

Com isso, nem se dava conta de que tinha abandonado seus hobbies, sonhos, desejos e felicidade. Sua aparência era sempre cansada e parecia não ter tempo para viver. Nem preciso dizer que o casamento não vingou, diante dessa disputa inglória.

O livro, então, foi um chamado de resgate à vida de mulheres que eu sabia serem incríveis, mas que haviam se deixado de lado sem perceber que a felicidade dos filhos seria inspirada na capacidade delas próprias se fazerem felizes. O espelho que tinham, no entanto, não era muito encorajador.

Digo tudo isso porque admiro quem consegue conduzir sua vida com sabedoria ao mesmo tempo que vai gradualmente libertando sua “cria” para o mundo.

Desejo, portanto, que no dia das mães, essas mulheres que fizeram o impossível possam, além de mães, serem mulheres, amantes, dançarinas, irmãs, primas, sedutoras e um grande ponto de interrogação que abrace todas as possibilidades.

Feliz dia das mães!"

ana maria disse...

Me identifiquei com o texto, porque quando meu filho nasceu, vi que, de uma hora para outra, eu tinha que saber sobre quase tudo, ter todas as respostas. E sofria quando não era, assim (e, claro que não era!) Hoje, dezoito anos depois, já me desvencilhei da maioria das obrigações desnecessárias. Ficaram as maiores, as que nem entendemos. Que as novas mães sejam mais leves, quanto a isto. Um beijo!

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